À primeira vista, “Mate ou Morra” parece uma cópia barata da mesma história já vista em tantas outras obras, algo semelhante à sensação de seu protagonista, Roy Pulver (Frank Grillo) ao acordar e precisar enfrentar seus assassinos todos os dias. Porém, apesar de seguir a mesma linha de pensamento de “Feitiço do Tempo” com a gamificação de “Free Guy: Assumindo o Controle”, o longa ganha rapidamente o espectador por não perder tempo explicando o looping temporal. O que importa, afinal de contas, é descobrir os porquês de Roy ser assassinado todos os dias.

Enquanto Roy acorda todos os dias com diversos assassinos à sua cola, o espectador participa de um jogo que parece não ter fim. Porém, ainda que os dias se repitam exatamente da mesma maneira, o modo pelo qual o protagonista passa a absorver mais informações através de diferentes possibilidades soa autêntico porque é plausível imaginar que alguém, na mesma cidade, no mesmo dia, encontrando as mesmas pessoas, tente alternar suas ações para ver o que acontece. Aqui, isso faz ainda mais sentido porque a exploração de possibilidades vem para salvar Roy de um assassinato, o qual pode ser rápido ou dolorosamente criativo.

Ainda como em um jogo, do facão que passa rente ao seu pescoço ao helicóptero que invade seu apartamento, dos gêmeos assassinos ao sádico que o arrasta pela rua, do anão objetivo e prático à assassina com espada e frase de efeito. Cada personagem parece mesmo um personagem, e o próprio protagonista debocha desses encontros violentos. Porém, conforme percebe determinadas combinações de acontecimentos, ou coincidências em seu dia repetitivo, Roy começa a ligar as peças e, com isso, enxergar que tudo pode ser parte de um plano muito maior do que estar preso no trágico dia de seu iminente assassinato.

Assim, seria equívoco comum tornar o processo de repetição algo reflexivo e, quase que como uma regra, lento. Não que isso seja defeito algum, mas a fórmula existe há tempo o suficiente para que a experiência, aqui, não fizesse sentido. Com isso, o roteiro de Chris Borey, Eddie Borey e Joe Carnahan, sendo este o diretor, é inventivo ao assumir a metalinguagem enquanto Roy narra suas próprias experiências, levanta seus questionamentos e toma suas decisões, assumindo riscos, acertos e erros. Quando erra, sabe que voltará no dia seguinte, ou melhor, no mesmo dia, e isso o torna excessivamente seguro de seus atos. Mas, quando descobre que seu filho está preso naquele mesmo dia, que coincide com o assassinato de sua mãe, Jemma (Naomi Watts), a segurança vai por água abaixo e ele decide mudar sua realidade.

É neste momento que o filme facilmente se perderia na repetição, abraçando a própria fórmula, mas o protagonista jamais soa repetitivo porque ele é criativo o suficiente para testar sua nova realidade à exaustão, e isso parece funcionar como em um jogo ao melhor estilo GTA. Violento, inventivo, dinâmico e jamais entediante, essas são qualidades que tornam este “Mate ou Morra” um excelente filme de ação, sobretudo porque consegue trazer boas pinceladas de ficção científica que explicam a dinâmica em que Roy está preso, sem antes torná-lo um ex-anti-herói.

Contando ainda com elenco de apoio estelar, que vai de Mel Gibson como o grande vilão, passando por Ken Jeong e Michelle Yeoh, o filme aproveita a linguagem de seu roteiro para incluir, em sua narrativa, pequenos efeitos que o tornarão divertido, como a numeração das tentativas de Roy como fases a serem passadas. Enquanto isso, Carnahan é hábil ao construir um filme de ação que prende pelo talento de Frank Grillo, ainda pouco explorado como protagonista, e que aqui funcionou muito bem, pois o ator soube abraçar a canastrice de alguns momentos, mas a evolução genuína de outros também.

Contudo, mais do que ação, ficção científica ou romance, o diretor criou uma oportunidade autêntica por transitar sua história entre diferentes gêneros, fazendo isso acontecer de forma equilibrada e, sobretudo, pop. Ou seja, é o filme que merece ser visto por divertir, acima de tudo.

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