Não há promessa de que o corpo humano vai resistir ao tempo algum dia. Ou melhor, as promessas se encaixam em procedimentos estéticos, mas a medicina corre atrás de alguns males, como o Alzheimer e a demência. Com o pano de fundo do terror sobrenatural, este “A Mansão”, da Blumhouse e Amazon Prime Video, traz algumas discussões interessantes sobre como é o lugar de fala de quem está envelhecendo e, em algumas culturas como a dos Estados Unidos, na qual os idosos muitas vezes são abandonados em asilos, lembrados apenas pela manutenção dos custos para mantê-los por lá.

Quando Judith (Barbara Hershey), uma ex-bailarina e professora de balé, sofre um desmaio no meio de evento familiar em sua casa, o espectador rapidamente entende que aquela é a chave para levar a protagonista ao cenário principal de sua história: uma mansão adaptada para asilo, na qual convivem alguns poucos idosos em harmonia com o local. Com a detecção do Mal de Alzheimer em estágio inicial, a própria Judith pede à família, composta por sua filha Barbara (Katie A. Keane), e neto Josh (Nicholas Alexander), para que seu lar seja outro. Porém, com os problemas de relacionamento com a filha, a protagonista logo sente o peso da solidão, pois passa a se tornar incomunicável naquele local.

A grande questão, então, é o peso do envelhecimento nos ombros de Judith, que repentinamente o sente e precisa aprender a lidar com isso. Apesar de lúcida, passa a presenciar eventos estranhos em seu quarto, de madrugada, sentindo e até mesmo visualizando seres que aparecem para visitar sua colega, cuja saúde está baixíssima e, portanto, passa a ser considerada a próxima pessoa a partir. Mas, apesar de sua disposição, Judith jamais consegue convencer os funcionários de que aquilo é real e, trancada e incomunicável, tenta convencer o neto de que algo está errado nas escassas visitas que passa a receber.

Porém, o que este “A Mansão” propõe não é apenas um terror sobrenatural, e sim uma discussão sobre o comportamento da sociedade diante da iminência que acompanha os mais velhos, os enfermos e, portanto, quem foge a qualquer padrão. Assim, o desespero da protagonista é registrado pela composição urgente de Barbara Hershey, que ainda parece criar um eco com sua participação em “Cisne Negro”, e cuja vaidade de uma bailarina volta à tona mais uma vez. 

Escrito e dirigido por Axelle Carolyn, o filme conta com um desfecho interessante, que não descarta nem o arco de sua protagonista e nem as pequenas dicas que foram dadas ao longo do roteiro. Desta forma, a cineasta brinca com elementos sobre o envelhecimento de todo mundo, e parece dar à atriz máxima liberdade para brincar com isso. Assim, Hershey aproveita a sua própria carreira e personagens para trazer o medo que a perda da juventude representa para toda mulher, em especial, e como as demais integrantes do asilo parecem já não se importar com isso, tendo em vista que não precisam mais se preocupar.

Por outro lado, é infeliz a composição do segundo ato, que apresenta o sobrenatural quase fantástico como solução para constantes jump scares, fazendo mais do mesmo do que já foi visto em tantos outros filmes, e dando à personagem questionamentos vazios em um ambiente tão apático que, na verdade, parece ser ele o lado fantasioso do longa. Assim, ao invés de explorar as nuances do terror do envelhecimento, do esquecimento e de como a sociedade trata os mais velhos (algo feito com maestria por Darren Aronofsky em “Réquiem para um Sonho”), a diretora faz com que sua história seja apenas a sombra de sua premissa.

Ainda assim, este “A Mansão” não é o tipo de filme que rapidamente será esquecido, mas o porquê fica por conta de seu desfecho, que permite a determinados personagens serem consequências orgânicas às vidas que levaram, e o fato de o filme não torná-los vítimas deixa tudo mais intrigante.

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