Não tem nada melhor do que pegar um cineminha não é mesmo? Ver aquele filme tão esperado com qualidade e som que só o cinema pode proporcionar! A espera…
Bollywood é a Hollywood do cinema indiano desde 1931. No dia 14 de março de 1931 ocorreu a estreia do primeiro filme da Índia, chamado Alam Ara. A história de amor com “mais música e menos diálogo” foi a receita de sucesso da popular e bem sucedida indústria cinematográfica chamada Bollywood.
Sobre a mesinha de cabeceira do jovem roteirista indiano Prashant Pandey, a desorganizada pilha de livros entrega as fontes de inspiração para seus filmes. Repousam ali novelas de espionagem, como O Dia do Chacal, de Frederic Forsyth, e O Jardineiro Fiel, de John le Carré. A saga de O Poderoso Chefão, de Mario Puzo, também está lá. E as referências ocidentais continuam na coleção de dvds espalhada sobre a cama de solteiro. Lá no meio, Cidade de Deus. “Sério que é brasileiro? Eu adoro esse filme. Não sei até hoje como fizeram aquela cena da galinha!”, conta Prashant.
A quitinete do roteirista fica em um prédio baixo e engolido por uma floresta, ao lado de cinemas multiplex, outdoors de filmes em lançamento e esgoto a céu aberto. É nesse ambiente sem o glamour californiano que Bollywood fervilha. Estamos em Bombaim, o coração econômico e cinematográfico da Índia. A cidade foi rebatizada como Mumbai em 1995, mas o “B” de Bombaim ainda serve de inicial para a Hollywood deles.
O bairro do roteirista é o suburbano Andheri. Enquanto equipes de filmagem gravam cenas a poucos quilômetros da cidade, na Film City, é em Andheri que giram as engrenagens de Bollywood. Lá ficam as sedes de produtoras como a gigantesca Yash Raj Films, a maior do país, a Balaji Telefilms e a Mukta Arts, além de inúmeros escritórios que oferecem todo tipo de serviço relacionado a cinema. Em Andheri, o mundo gira em torno da indústria dos sonhos. Mais um resultado do crescimento da Índia? Sim. Mas isso não veio do nada.
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O cinema tem um papel forte na cultura indiana desde a década de 1940. Nessa época o país se tornava independente da Inglaterra, e a telona ajudou a criar uma identidade nacional em um país cheio de culturas e religiões diferentes. Trinta anos depois, o cinema mostrou a insatisfação da população com o governo corrupto, através de filmes que exaltavam a violência e o crime nos anos 70. Mas o boom começou mesmo na década de 1990, quando veio a liberalização econômica e o país começou a crescer 8,5% ao ano, em média. Nisso emergiu uma classe média com novos hábitos de consumo e valores, geralmente avessos às tradições indianas. E o conflito de gerações foi inevitável. Não demorou para o cinema reproduzir esse dilema e criar uma nova fórmula de sucesso: os filmes de jovens lindos e ricos que se dividem entre o desejo individual e o casamento arranjado pela família.
Funcionou. Hoje a Índia produz 1 000 filmes por ano, em 20 das 22 línguas faladas no país (inglês incluído), contra 650 dos EUA. Em 2004, o número de espectadores de filmes de Bollywood alcançou 3,8 bilhões, ultrapassando pela primeira vez o público de Hollywood, formado por 3,6 bilhões de pes-soas. O cinema indiano, veja só, tornava-se o único Davi capaz de rivalizar com o Golias americano.
Não que o Golias esteja à beira de uma crise. Mesmo com um público menor, Hollywood é dona de 60% da renda da indústria cinematográfica mundial. E a Índia fica com apenas 1% – é que o ingresso sai em média por volta de R$ 1.
E claro que outros números deles também são modestos. Os orçamentos são de US$ 500 mil, em média – bem menos que os US$ 3,3 milhões de Cidade de Deus. E nada comparado aos mais de US$ 100 milhões de um Duro de Matar da vida.
Mesmo assim os estúdios americanos têm motivo para se preocupar.
Bollywood global
O cinema indiano cresce num ritmo ainda maior que o do resto da economia do país. O US$ 1,75 bilhão que ele arrecadou em 2006 deve crescer para US$ 3,4 bilhões em 2010. Em 2001, veja só, eram apenas US$ 617 milhões.
E agora começam a chegar as superproduções, com orçamentos inimagináveis por aqui. Lagaan (“Imposto”), de 2001 e indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro no ano seguinte, foi considerado caro para os padrões indianos da época, com um orçamento de US$ 4,5 milhões. Em 2002, Devdas (“Servo de Deus”) se tornou a obra mais custosa de Bollywood, com US$ 13 milhões. E em 2006 Dhoom 2 (“Grande”), assumiu a ponta, com US$ 20 milhões. Um dos sets de filmagem, aliás, foi no Rio de Janeiro. Nada mais adequado para uma superprodução.
Mais: nos países vizinhos, como Paquistão (161 milhões de habitantes) e Bangladesh (150 milhões), ele está bem mais presente que o cinema americano. Os 26 milhões de emigrantes da Índia e os 3 milhões do Paquistão espalhados pelo mundo também ajudam a levar Bollywood aos domínios de Hollywood. Mesmo num cenário como esse, um indiano virar o maior astro do mundo ainda pode soar a missão impossível, mas Shah Rukh Khan, o maior astro de Bombaim, já pode se gabar de ter batido Tom Cruise.
No fim de semana de estréia do filme Leões e Cordeiros (2007), o ator americano despontou nas bilheterias como uma das maiores estrelas decadentes de Hollywood; enquanto isso, o filme indiano Om Shanti Om (“A Vibração da Paz”, numa tradução livre) liderou as bilheterias internacionais com US$17 milhões contra US$ 10 milhões do filme com o top gun do cinema.
Mas esse cinema não vive só do público que conquistou nos países em volta da Índia ou dos imigrantes no primeiro mundo. Além de ganhar espectadores que não têm origem indiana na Europa, ele se deu bem com as próprias pernas nas nações da ex-União Soviética e no mundo muçulmano (veja aqui embaixo). Se é assim, alguma graça esses filmes indianos devem ter, não? É o que vamos ver agora.
Filme masala
A qualidade do cinema de Bombaim é pra lá de discutível, mas é fato que ele tem personalidade. Elementos tradicionais da cultura indiana se unem ali ao jeitão ocidental para resultar no “filme masala”.
Todo prato indiano é temperado com uma masala, a mistura indecifrável (e variável) de especiarias que dá à Índia um sabor inconfundível. Como a comida, o filme de Bollywood não pode ter só um salzinho cá e um alhozinho acolá. São 3 longas horas de melodrama familiar regado a cenas musicais raga ou pop semelhantes a videoclipes, coreografadas em danças ora humoradas, ora sensuais, com cenário saltando das pirâmides do Egito para o meio de trigais na bacia do rio Ganges – sem pausa na ação ou na música. Dizer I love you não basta.
Nenhum sabor pode sobressair: para cada pitada de drama há outra de comédia; para cada cena de ação, uma de romance. Sáris molhados pela chuva de monções intercalam piadas de crianças gorduchas e funerais de vítimas de câncer.
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Tão grande é a mistura de elementos que muitos críticos ocidentais não conseguem classificar os filmes indianos. Sua estrutura lembra a da novela brasileira: uma história principal dá ritmo à trama, mas os personagens coadjuvantes também ganham espaço. Isso forma vários núcleos dramáticos que ajudam o espectador a se envolver com o filme. Os roteiristas da Índia afirmam morrer de inveja da simplicidade com que os roteiristas americanos resumem a história dos seus filmes em apenas duas linhas.
Se faz o gosto do público ocidental? Assim como restaurantes indianos pelo mundo tiram um pouco da pimenta do curry para agradar a clientela, Bollywood tem se adaptado ao gosto do público pelo mundo afora. Pelo jeito, tem dado certo. E a lógica indiana explica muito o porquê – um filme com um pouco de tudo terá sempre algo que agrade a todos.
Insatisfeita com a monótona planície verde do Ganges, o cinema indiano não pára de expandir suas locações de filmagens para além de suas fronteiras, transformando a tela numa seção de turismo virtual. E tome de arranha-céus nova-iorquinos a reservas ecológicas da África.
Nos anos 70, a Suíça era a queridinha de Bollywood. Isso fez com que a leva de turistas indianos para o país aumentasse drasticamente – todo mundo queria ver ao vivo os cenários de seus filmes favoritos, ora. Muito grato, o governo suíço batizou um dos seus lagos com o nome de Chopra. Yash Chopra, diretor e dono da maior produtora da Índia, a Yash Raj Films. Os seus filmes sempre têm a Suíça como cenário. Por causa disso, rodar no país virou lugar-comum. Mas o público, cada vez mais endinheirado e informado, estava sedento por coisas novas. Nada mais de Alpes e relógios-cuco! Bollywood passou a procurar locações cada vez mais exóticas: Nova Zelândia, China, Polônia, Egito, e, sim, o Brasil.
O cenário mais manjado é a eterna madrasta Grã-Bretanha, que governou o país por quase 100 anos. Eles rodam cerca de 20 filmes lá todo ano. E mostram como vivem os imigrantes indianos, segundo seu mundo de sonhos: bem-sucedidos, com frotas de BMWs, só que eternamente insatisfeitos pela distância da Mãe-Índia.
Isso indica que os indianos têm mais razões para assistir seus filmes do que a diversão pura e simples. O cinema, ali, é uma parte importante da identidade nacional. Veja só.
O sonho indiano
Uma colossal bandeira da Índia projetada na tela tremula ao som do hino nacional. Respeitosamente, os espectadores se levantam das poltronas e colocam patrioticamente a mão no peito. Esse ritual que antecede toda projeção na Índia é apenas a introdução para uma mostra ainda maior de orgulho nacional.
Bollywood é um espetáculo quixotesco da Índia superando o Ocidente. Em Chak De! India (“Vai, Índia!), de 2007, a garra do povo indiano faz seu recém-nascido time feminino de hóquei na grama, patinho feio do campeonato mundial, vencer a rica e temível Austrália na final. O público pode não se convencer muito, mas aplaude enlouquecido cada ponto feito pelas meninas.
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A mensagem é que o indiano, apesar de todas as dificuldades, consegue se unir em torno do patriotismo e levar o país à frente.E nenhum país precisa ser superado com mais glória que a Inglaterra. Nas telas de Bollywood, crianças britânicas cantam o hino nacional indiano, playboys londrinos se arrastam por patricinhas imigrantes e mordomos de Oxfordshire servem magnatas com a cara do Apul, dos Simpsons.
Mas a originalidade deles pára por aí.
Tudo em família
Em Bollywood muita coisa se cria, mas outro tanto se copia. De Hollywood. A idéia é pegar histórias americanas e fazer com que elas passem por uma “indianização”. Para isso, dois ingredientes precisam de um realce: emoções e família. Por exemplo: os indianos precisam saber como são os parentes dos personagens principais para aceitá-los.
Veja o caso de Heyy Babyy (2007). Ele é um remake de Três Solteirões e Um Bebê, o filme dos anos 80 em que 3 caras cuidam de um bebê deixado na porta deles. Na versão indiana, a 1a parte segue o roteiro do original, com os 3 fanfarrões se apegando ao bebê. Aí vem o intervalo (os filmes indianos duram 3 horas, com direito a pausa para lanche no meio).
E o filme vira um dramalhão: o avô materno da criança aparece do nada. A mãe surge logo em seguida para levar o bebê embora para a casa da família. E a vida dos solteirões fica vazia. Mas espera aí. A moça está tentando arranjar um casamento! Os 3, então, se fingem de pretendentes para conseguir o bebê de volta.
Prashant, o roteirista do início desta reportagem, está escrevendo o roteiro de Sarkar 2, uma refilmagem de O Poderoso Chefão 2. O original mostra a tragetória do jovem imigrante Vito Corleone, que começa a vida em Nova York num gueto e termina milionário, como um dos chefes da máfia. Prashant comenta: “Adaptar a saga não foi tão difícil quanto pode parecer, porque nenhuma história é mais indiana que a de O Poderoso Chefão”.
Pois é. Talvez a globalização do cinema indiano esteja aí não só porque Bollywood tenta imitar os EUA. Mas porque Ocidente e Oriente têm mais em comum do que seus povos imaginam.
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