“Me chama de Greta Garbo”. O espectador de Greta escuta algumas vezes esta frase, proferida por Pedro (Marco Nanini), um enfermeiro de 70 anos, gay e apaixonado pela atriz de A Dama das Camélias e Ninotchka.

Este é o pedido dirigido aos amantes e parceiros de uma noite, incluindo Jean (Démick Lopes), um criminoso que Pedro ajuda a fugir do hospital.

Nasce entre os dois uma relação ambígua de amor e dependência.

Greta

Foi o último filme apresentado na mostra competitiva do 29º Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema, causando forte impressão na plateia.

Marco Nanini, o diretor Armando Praça e as atrizes Denise Weinberg e Gretta Sttar, além da equipe, receberam fortes aplausos no Cinema São Luiz.

Nos bastidores do evento, o drama é apontado como provável vencedor do prêmio de melhor filme, disputando talvez a preferência com Canção Sem Nome. Já Nanini se torna o franco favorito ao troféu de melhor ator.

 

Destaques da Noite

A noite de 5 de setembro também apresentou os quatro últimos curtas-metragens concorrendo ao troféu Mucuripe. O curta mais potente da noite, e talvez o melhor de toda a mostra competitiva, foi Ilhas de Calor, dirigido por Ulisses Arthur.

O drama investe nas relações de gênero e de poder na oitava série de uma escola pública.

Esse resultado impressiona pelo trabalho de câmera criativo e dinâmico do diretor, além de uma narrativa interessantíssima que não se desenha por relações de causa ou consequência – uma cena não necessariamente funciona como origem ou decorrência da outra.

Através de núcleos distintos, Arthur cria uma trajetória fascinante, embalada pela coreografia de câmera e corpos que mistura luta, jogo e dança.

Rua Augusta, 1029

Apresenta o registro ao vivo de uma ocupação de edifícios abandonados em São Paulo, para servirem de abrigo a diversas famílias. A diretora Mirrah Iañez emprega longos planos-sequência, com a câmera tremendo em tom de urgência, para retratar a entrada no prédio, as ameaças dos policiais e a organização interna dos militantes.

A estética de guerrilha, na qual a clareza das imagens é sacrificada em nome da captação in loco de um momento único, pode não ser muito inovadora, mas resgata a fusão de arte e política, ou a discussão sobre uma estética adequada às necessidades da função social da arte. Neste sentido, dialoga com outro curta-metragem na mostra competitiva, Primeiro Ato.

O Grande Amor de um Lobo

Dirigido por Kennel Rógis e Adrianderson Barbosa, levou a plateia às gargalhadas com a história metalinguística de um garoto da periferia (Adrianderson) que sonha em construir seu próprio filme, sobre um garoto cujos poderes permitem combater vilões e conquistar a garota dos seus sonhos.

O projeto une o aspecto documental das entrevistas à concretização do roteiro de Adrianderson.

Sem medo de explorar o aspecto amador, Rógis brinca com os códigos hollywoodianos da ação e o terror.

O tom de brincadeira cativou a plateia, que irrompia em aplausos durante a sessão.

No entanto, o olhar do cineasta para seu personagem e coautor desperta alguns questionamentos: até que ponto se está rindo com ele ou rindo dele ao revelar seus sonhos de tomar o papel de Vin Diesel em  ou atuar em Crepúsculo?

O olhar de fora, certamente pleno de interesse, também pode ser considerado paternalista em relação ao personagem principal.

Pop Ritual

O representante cearense da noite, Pop Ritual, mergulha o espectador numa representação trash-queer do cinema de terror.

A tradicional premissa do padre tentando exorcizar um demônio é subvertida com a figura de um padre sádico, demonstrando evidente desejo sexual pelo prisioneiro andrógino.

Gosta do Marco Nanini e do cinema Nacional? Dá uma olhada nessa lista dos melhores filmes nacionais de comédia.

O filme do diretor Mozart Freire pode ser questionado pelo roteiro pouco inconsistente (vide a conclusão) ou mesmo pela representação do indivíduo LGBTQ como figura monstruosa, mas o que realmente chama a atenção é a direção de fotografia.

Com poucos focos de uma luz dura lançada no espaço-cenário, o projeto adquire uma impressão caseira, no mau sentido do termo – até porque o trabalho dos atores e dos efeitos visuais é muito mais sofisticado do que a textura da imagem permite pensar.

Esta escolha curiosa de iluminação e enquadramentos prejudica um gênero tão dependente da construção de clima quanto o terror.

Os vencedores

A cerimônia de encerramento ocorre na noite de 6 de setembro, quando serão anunciados os vencedores da 29ª edição.

Além disso, o longa-metragem cearense Pacarrete, vencedor de 8 Kikitos no Festival de Gramado (incluindo melhor filme) será exibido no Cine São Luiz, além de uma homenagem ao ator Matheus Nachtergaele.

fonte:
http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-150627/

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