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A realidade é o pano de fundo em “A Chorona” terror guatemalense que chegou a diversas premiações pelo mundo na temporada de 2020, e que chega aos cinemas brasileiros com os dois pés nas questões sociais que dividem o país. Por isso, mais do que representante do cinema latino, o terror dirigido por Jayro Bustamante é atemporal e se encaixa em diferentes realidades políticas e econômicas.

Para saber mais sobre como foi a realização do longa, e quais foram as escolhas que ficaram dentro da obra, diante do tamanho de suas possibilidades, o Cinema com Rapadura bateu um papo com o diretor, que contou:

“Primeiramente, pensei no projeto como parte de uma trilogia, sobre os Três Insultos, algo que se passou na Guatemala, que envolve diversas nuances de nossa sociedade, por pertencermos a uma forma classista e altamente preconceituosa, e esta é a terceira parte deles, que é o comunismo, sobre o qual tratei neste filme. Este, porém, é um Insulto mais complexo de explicar, porque quando, nos anos 1950, o governo dos Estados Unidos estava completamente introduzido e intervindo na Guatemala, e segue, mas não da mesma maneira, os comunistas eram realmente os inimigos da nação. E é daí que saíram todas as guerras dentro do país, e o genocídio que ocorreu e que, neste filme é trazido como parte não só do comunismo, mas sim de todas as pessoas que defenderam os direitos humanos e perderam suas vidas. Então, quando você entende que em uma sociedade na qual um defensor dos Direitos Humanos merece um Insulto, significa que um genocídio pode acontecer de tal forma sem nenhum problema. E foi o que aconteceu. E o pior é que, para defender alguns interesses dentro da Guatemala, muitos acabam negando que tal genocídio aconteceu.”

Em seu processo para desenvolver o projeto e o roteiro em si, Bustamante contou também:

“Fiz uma pesquisa sobre o perfil que mais poderia representar essa pessoa que chora pelo país, que sofre em silêncio à base de suas lágrimas, e cheguei à informação de que é uma mãe, uma mãe com seus filhos que poderiam perder a vida no genocídio que aconteceu, e que é provável que tenha acontecido isso aos montes. Também pesquisei sobre o perfil do público que vai aos cinemas na Guatemala, e descobri que 98% prefere filmes de super-heróis e de terror. Então fiz isso: desenvolvi uma história que contasse a parte de nosso país, que representasse o horror social da América Latina, e que tivesse camadas do terror como o gênero tem em si. E, também durante as pesquisas e o desenvolvimento do que viria a ser o roteiro, sabia que precisava de uma justiceira, de uma heroína, e todas as justificativas dela estão no filme.”

Por sua vez, o diretor contou sobre o seu processo de escolha de elenco:

“Veja, a Guatemala é um país cuja indústria cinematográfica é relativamente nova, então, há muito poucos atores de cinema, ainda que haja grandes quantidades e talentos no teatro. Então, durante todo o processo para a realização deste longa, entendi que uma de minhas funções seria formar esses atores de cinema, e foi isso o que fizemos. Montamos um esquema integrado e, com o passo a passo, criamos esses profissionais, adequados à linguagem, e prontos para o trabalho. Ao final, focamos na criação dos personagens e, assim, trabalhamos para torná-los críveis, e encontramos enormes talentos nesse processo todo.”

Além disso, o diretor explica sobre, mais do que o desenvolvimento do projeto, quais foram as escolhas de roteiro para torná-lo um filme acessível e, ao mesmo tempo, simbolicamente complexo:

“Acredito que este tenha sido um grande desafio, porque o pretexto de incluir o terror nessa história sobre um povo que tanto sofreu na época do genocídio foi fortíssimo, mas não queria que fosse apenas isso, sabe? Um filme de sustos e pulos, então, o que fizemos foi criar uma balança para incluir os elementos do terror como o gênero cinematográfico, e equilibrá-lo com o horror verdadeiro desta história, que é o genocídio, e, também, para integrar ambos os elementos trouxemos um terceiro, pois não há o terror sem o realismo mágico, e para nós era muito importante romper o que aprendemos vendo os filmes de terror de Hollywood, pois, para nós, de diversas culturas latino-americanas, os mortos e os fantasmas não são motivos para termos medos, porque eles são guias, são nossos ancestrais, e o realismo mágico não teme a morte por este aspecto. Para nós isso foi muito importante, porque a Chorona em questão é uma alma, que regressa a este mundo como essa guia que desperta a consciência humana e social.”

“A Chorona” chegou aos cinemas nesta quinta-feira, 23. Leia nossa crítica.

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[Entrevista] A Chorona | Jayro Bustamante conta sobre realização do terror social que foi da Guatemala para o mundo

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