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Ao ser anunciada em julho de 2019, a primeira série animada do Marvel Studios logo pareceu um diferencial no meio de um catálogo tão extenso. Não por ser uma animação, e nem por propor algum conceito original, mas por usar o próprio universo tão bem construído ao longo de mais de 10 anos para brincar com possibilidades que nunca seriam utilizadas na linha do tempo principal do MCU. À época do anúncio, a ideia era revisitar cada filme até então lançado pela Marvel, e mudar um ponto da história, com a pergunta “O que aconteceria se…?” como base. Assim, com a criatividade que só o formato da animação poderia dispor, o estúdio teria a chance de inovar e divertir. No entanto, a primeira temporada de “What If…?” se tornou apenas mais do mesmo, muitas vezes falhando até em escolher os melhores personagens e momentos para tal exercício de imaginação.

A série começa com um episódio que parece vir da ideia original de mudar um detalhe de um filme do MCU, neste caso, “Capitão América: O Primeiro Vingador”. Aqui, a agente Peggy Carter é quem recebe o soro do supersoldado, tornando-se a Capitã Carter. A trama segue quase idêntica a do material original, o que colocou logo de início dúvidas sobre a criatividade da produção. Porém, o episódio é uma boa introdução sobre o conceito de “e se…”, reapresentando de forma subentendida o Evento Nexus explicado em “Loki”, e sendo uma boa promessa para os capítulos vindouros.

O primeiro episódio pouco se diferencia do filme que lhe deu origem pelo fato de Peggy Carter e Steve Rogers terem basicamente os mesmos ideiais e personalidades complementares. Mas o que acontece quando dois personagens totalmente diferentes se unem em um só? Quem nasceu para ser rei de Wakanda na verdade se torna o Senhor das Estrelas. O segundo capítulo mostra o que aconteceria se T’Challa fosse sequestrado por Yondu no lugar de Peter Quill, e a brincadeira aqui é mostrar que foi o wakandano que mudou os rumos dos Saqueadores, e não estes que moldaram a personalidade do jovem garoto. Eles roubam, sim, mas no estilo Robin Hood, salvando planetas e galáxias daqueles que buscam destruição.

O interessante deste episódio é também o que causa uma certa estranheza (apesar de ser exatamente a proposta). O T’Challa que o MCU apresentou é um rei, e sua postura e aura transparecem a seriedade que lhe é inerente. Já o T’Challa Senhor das Estrelas é brincalhão, divertido de uma maneira que faz sentido com o humor de “Guardiões da Galáxia”, e diferente da versão de Peter Quill, este Star-Lord não só é conhecido pelo universo, como respeitado, fazendo jus ao título. No entanto, a graça de Peter Quill nesta posição é justamente como ele não é ninguém, além de um ladrão como os Saqueadores o criaram para ser, e mesmo assim se torna um Guardião da Galáxia. T’Challa já nasceu grandioso e nobre, e nenhum Evento Nexus mudaria isso. Com uma trama pouco aprofundada, este episódio serve como um lembrete da falta que Chadwick Boseman sempre fará nas vidas dos fãs.

Ao falar do terceiro episódio, é justo mencionar também outros capítulos que até são bem sucedidos no exercício do “e se…”, mas falham em apresentar uma história atrativa. O trunfo do MCU sempre foi os personagens, e como o público consegue se conectar a eles, torcer por eles e sentir a perda quando se vão. Na falta de uma conexão emocional, como se importar com o que estamos vendo?

No terceiro capítulo, voltamos para a época de “Homem de Ferro 2”, em que os Vingadores começariam a ser recrutados, mas antes que Nick Fury consiga fazer isso, seus heróis são assassinados um por um. É chocante de início, mas a trama é acelerada e nem seus personagens têm tempo de sentir as perdas. Assim, o estilo whodunnit tem uma conclusão pouco satisfatória quando coloca personagens que mal tiveram algum desenvolvimento no MCU como a grande solução. A situação se agrava ainda mais no episódio cinco, dos zumbis, pois neste não só as mortes não são sentidas, como são alvo de piadas. Destaque para uma especialmente de mau gosto entre Bucky e Sam, que vindo logo depois de “Falcão e o Soldado Invernal” fica ainda pior. Não é exagero dizer que este episódio de zumbis nada tem a oferecer, e só serve para ser usado brevemente no capítulo final da temporada, além de ser peça de uma óbvia estratégia de marketing. No papel, imaginar o que aconteceria se nossos heróis se tornassem zumbis pode até ser curioso e de fato criativo, mas na prática, não funciona.

O episódio seis também pouco inova. Ao usar Killmonger, eles tinham a chance de explorar diversas ideias, como o que aconteceria se ele não tivesse sido abandonado na Califórnia e sim voltasse a Wakanda quando criança, tornando-se um príncipe e quem sabe até o rei. No episódio, ele salva Tony Stark durante os eventos de “Homem de Ferro”, e assim se torna o braço direito do bilionário playboy, este que por sua vez não vira o herói que viríamos a conhecer. Este caminho até seria interessante de explorar, mas o que é desenvolvido é como Killmonger apenas buscava um jeito de retornar a Wakanda e se tornar o rei. No fim, a jornada do personagem é a mesma mostrada em “Pantera Negra”, porém trocando seus ideais justificáveis por uma máscara de vilão maniqueísta.

O episódio sete traz o Thor festeiro, em algo que nem merece tantas palavras de atenção. A ideia de trazer o Thor do primeiro filme e mantê-lo da mesma forma é absurda, visto que o personagem era tão pouco popular que precisou passar por uma espécie de reboot a fim de continuar relevante no MCU. Intencionalmente ou não, o episódio na verdade confirmou como Thor precisa de Loki ao seu lado. Como filho único dentro da trama, ele nunca evoluiu como pessoa. E como personagem sendo assistido pelo espectador, ele é simplesmente entediante.

“What If…?” só realmente brilhou em seu quarto episódio. E se o Doutor Estranho perdesse seu coração em vez das mãos? Uma chance de explorar o personagem que, mesmo já tendo seu primeiro filme solo e várias aparições no MCU, ainda foi pouco desenvolvido e deve ser o grande destaque da nova fase do estúdio. A história propõe que no momento de seu acidente de carro, Stephen Strange não tem as mãos danificadas, mas sim perde sua amada Christine. Sua jornada segue no mesmo caminho visto em seu filme, como uma cura espiritual para o luto. Mas, ao ter posse da Joia do Tempo, Strange é tentado pela chance de trazer Christine de volta. Eis que se inicia um assombroso loop temporal de sofrimento, em que, mesmo no curto tempo de episódio, conseguimos estabelecer uma conexão emocional com o personagem. Sentimos muito por ele, mas não podemos aceitar suas ações. É neste episódio que a animação mostra a que veio, no ápice da proposta e execução. Seu final é sem dúvidas um dos momentos mais tristes de todo o MCU, e que ao ser visto como uma história fechada, ficaria marcado como um dos raros momentos em que a Marvel permitiu tamanha melancolia.

Uma pena, então, que em seus dois episódios finais, a série mostre que não existe chance para uma antologia dentro do MCU. O último “e se” da temporada propõe uma realidade em que o Ultron vence na batalha contra os Vingadores, e eventualmente toma posse das Joias do Infinito. Como personagem, o vilão tem de fato um melhor desenvolvimento se comparado a seu equivalente piadista em “Vingadores: Era de Ultron”, e suas ações fazem sentido com seu propósito. No entanto, uma inteligência artificial na posse de seis dos elementos mais poderosos de todo o multiverso não pode ser vencida… a não ser que todos os episódios anteriores da série sejam conectados e os heróis de cada um deles se unam contra um inimigo comum. Tudo convenientemente se amarra, e a série troca uma obra que poderia ser única em sua proposta por só mais uma aventura em seu universo compartilhado.

E este é o grande problema de “What If…?”. Ao ser canônica dentro do MCU, é justo assumir que ela pode ser relevante para as futuras produções do calendário da Marvel. Mas o que se vê é um meio-termo desinteressante, em que as histórias tanto não podem ser vistas como produtos soltos, nem como tendo a mesma importância do live-action. Sabemos que séries como “WandaVision”, “Falcão e o Soldado Invernal” e “Loki” foram introduções a eventos que serão desenvolvidos nos filmes, mas onde se encaixa “What If…?”?. Aparentemente, num limbo, onde ficará presa até Kevin Feige decidir libertá-la. Até lá, a série não é necessária nem chamativa, podendo funcionar apenas como passatempo enquanto esperamos pela próxima produção da Marvel.

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