Quando “Venom” chegou aos cinemas, o público automaticamente se dividiu. Uma parte considerou o filme algo leve, descompromissado, que segue uma nova vertente dentro do universo de adaptações de histórias em quadrinhos. A outra parte se impressionou com a quantidade de besteiras em um só roteiro, que parecia sem pé nem cabeça. Com este “Venom: Tempo de Carnificina” não será diferente, pois ele segue os mesmos caminhos do primeiro filme, e dá ao (agora) anti-herói Eddie Brock/Venom (Tom Hardy) ainda mais chance de se tornar espalhafatoso. E consegue.
Agora, Eddie e Venom precisam lidar não apenas com um inimigo, mas com a relação que ambos estabeleceram, e que pouquíssimas pessoas estão cientes. Com isso, o filme traça um divertido primeiro ato, no qual a camaradagem dos protagonistas ultrapassa a irmandade, e cai em uma relação de amor e ódio literalmente carnal, mas no sentido simbiótico da palavra. Assim, o foco dado pelo roteiro de Kelly Marcel é na relação entre ambos, e como ela se desgasta a partir do momento em que têm necessidades diferentes, quase como em um relacionamento que ultrapassa o aceitável e se torna tóxico.
Com história do próprio Tom Hardy e de Marcel, este filme promete uma aventura cômica, e seu tom desce alguns degraus para sair da seriedade e lembrar, em diversos momentos, as piadas que não funcionam em “Deadpool”. A diferença está na formação dos arcos, a na maneira convencional em lidar com as piadas, não quebrando a quarta parede jamais. Porém, ainda que o primeiro ato se apresente como algo divertido, e em pouco tempo apresente o vilão da trama, Cletus Kasady (Woody Harrelson) – que mais tarde se torna, também, o Carnificina – e sua metade da laranja, Frances Barrison (Naomie Harris), o filme não vai além disso.
Assim, o que poderia ser uma aventura cômica altamente pautada no deboche de Venom e no bom moço Eddie em constantes atritos, o que gera os melhores momentos deste filme, acaba se tornando algo burocrático ao cumprir a formulaica história de vilão injustiçado versus herói (ou anti-herói, no caso) que está em processo de uma grande descoberta. Desta forma, a verdade é que o Carnificina pouco tem utilidade aqui, e Harrelson e Harris são desperdiçados em um filme que sequer parece conseguir enquadrar corretamente seus efeitos visuais, passando a constante impressão ao espectador de que algo está acontecendo, só não se sabe o que.
Aliás, “Venom: Tempo de Carnificina” parece ter surgido como um filhote de “Transformers” e de todas as suas continuações, cuja missão era divertir os meninos adolescentes que queriam ver ação desenfreada, e pouco ligavam para a história. Porém, ainda que este seja um nicho, não é correto afirmar que a experiência é completa quando assistida por qualquer pessoa. Ou seja, um filme pode ter seu público, sim, mas como produto e resultado de trabalho coletivo que alcança a sétima arte, ele também é feito para qualquer pessoa que queira assisti-lo – neste caso, então, não funciona para todo mundo.
Ainda que os efeitos visuais sejam mesmo convincentes, e Venom e Carnificina apresentam aspectos bem posicionados e ameaçadores, o excesso de CGI faz com que tudo pareça um complexo jogo de massinhas em alta velocidade. Em determinados momentos, o espectador deixará, inclusive, de se importar com o que está acontecendo. Com isso, é uma pena que o sempre talentoso Andy Serkis não tenha acertado a mão nesta continuação, mas o problema não está apenas em sua direção, e sim no roteiro pouco explorado, que serve para cumprir o combinado como uma continuação de algo que já não soou tão bom.
Como um filme cuja história é requentada de tantas outras obras do gênero, o gabarito de Marco Beltrami na trilha e de Robert Richardson na direção de fotografia espantam o espectador mais atento, mas não foram suficientes para elevar a qualidade técnica. Portanto, apesar do pedigree, “Venom: Tempo de Carnificina” é quase apático, e pouco memorável em seu segundo e terceiro atos. Seria mais interessante, portanto, continuar o “bromance” de Eddie e Venom em uma pegada mais casual, porém, autêntica.
Vale ressaltar que, neste caso, há uma importante cena pós-créditos.
O post Crítica | Venom – Tempo de Carnificina (2021): mais do mesmo, e mais bem feito apareceu primeiro em Cinema com Rapadura.
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