Muito mais: Filmes de crime, Cinema, Filmes 2019, Filme, Filmes policial, Viagem no tempo, Melhores Filmes, Policial, Crime, Casamento

O cinema e a literatura caminham lado a lado desde o início da sétima arte, e desde então muitas adaptações para o audiovisual se embasam nas mirabolantes histórias nascidas da imaginação de escritores de todos os tipos, lugares e idades. Um dos gêneros favoritos, então, foi o cinema de assalto, o qual rendeu, tempos depois, os filmes de crimes insolucionáveis. Neste “Quem Matou Lady Winsley?”, está o resultado de algumas gerações desse casamento entre cinema e literatura.

Não é à toa que o filme lembre tanto as histórias de Agatha Christie. Seus livros eram quase todos escritos sobre crimes difíceis de serem resolvidos, mas sem jamais perder a astúcia de seus protagonistas, e o senso de humor ácido tipicamente britânico. A exemplo disso, está “Entre Facas e Segredos”, o qual também traz uma atmosfera idílica, com suas respectivas reservas, e alguns personagens intrigantes, feitos à medida para enganar o espectador ao melhor estilo da rainha do suspense.

Em “Quem Matou Lady Winsley?”, como o título sugere, a história dá início a partir da descoberta do corpo da personagem, e o investigador Fergan (Mehmet Kurtulus) é chamado para decifrar o crime, ocorrido na pequena ilha de Büyükada, na Turquia, local tão belo quanto tradicionalista, com tonalidades xenofóbicas. Afinal, pouco importa para os moradores quem matou “aquela inglesa”, o que dificulta o trabalho de Fergan, ao mesmo tempo em que ele tem sua persistência reconhecida à medida em que descobre diversos segredos dos habitantes.

Distante da costa, mas nem tanto, Büyükada sobrevive com o que parece ser sua própria economia, e o grupo formado pelos moradores homens, donos do comércio, serve como exemplo ideal de como uma sociedade patriarcal funciona. Porém, o espectador vai perceber que algumas verdades são selecionadas para que certos tipos de comportamentos sejam perpetuados, e é justamente a aversão do grupo formado por mulheres o que mais choca, pois a tal Lady Winsley (Senay Gürler) chamava a atenção por aspectos que iam muito além de seu dinheiro.

Enquanto o protagonista vai de um lado a outro, na verdade, o roteiro de Thomas Bidegain, Hiner Saleem e Véronique Wüthrich insere características de suspense policial apenas para trazer à tona a acidez de uma crítica sobre o comportamento social de alguns lugares, e é justamente ao descobrir que está em uma espécie de emboscada xenofóbica, dentre outras coisas, que Fergan se dá conta de que Lady Winsley é o tipo de investigação que vai além do crime em si. A partir disso, então, com um segundo ato divertido, ainda que atrapalhado, o filme parte em busca das respostas, as quais ganham o merecido tom superior que o desfecho apresenta.

Desta forma, apesar de estar em uma crescente, do início ao fim, “Quem Matou Lady Winsley?” sofre ao não tornar seu protagonista devidamente explorado, em sua apresentação, ou sequer dar tridimensionalidade aos demais personagens – sequer o interesse amoroso de Fergan ganha tempo de tela. Com isso, o que se torna, de fato, uma investigação muito bem concluída, infelizmente não convencerá a todos, pois o espectador precisará passar pela provação de se interessar pelos primeiros atos.

Por sua vez, ainda que seja um problema de estrutura de roteiro, a direção de Hiner Saleem (um dos responsáveis pela escrita) soa excessivamente formal. Assim, há momentos da investigação de Fergan nos quais o protagonista passa por situações tão embaraçosas que soariam cômicas, caso não fosse o receio do espectador de ter compreendido a piada de forma errada – a construção da cena soa pesada demais, mas o roteiro faz piada.

Contudo, ainda que encontre alguns problemas estruturais, o filme diverte, e faz mais uma viagem à homenagem proposta: um crime insolucionável, ao melhor estilo Agatha Christie, enquanto a acidez está presente nas ações de seu protagonista, irrepreensível – e o melhor disso é saber que a influência da escritora chegou, também, ao cinema turco, como no resto do mundo, mantendo o casamento entre cinema e literatura saudável e universal.

O post Crítica | Quem Matou Lady Winsley? (2019): penitência do investigador apareceu primeiro em Cinema com Rapadura.

Crítica | Quem Matou Lady Winsley? (2019): penitência do investigador

Gostou do post? Deixe seu comentário!

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.