A curiosidade é um desejo intenso de ver, ouvir, conhecer, experimentar algo novo ou desconhecido. Isso pode ser ligado ao consumismo ou apenas ao interesse universal em saber as fofocas do vizinho. “Observadores”, novo suspense do Amazon Prime Video, demonstra como as pessoas são capazes de criar problemas reais apenas para matar a curiosidade alheia. O título em inglês “The Voyeurs” apresenta um lado da obra voltado ao erotismo que “Observadores” fica longe de entregar.
A trama, dirigida e roteirizada por Michael Mohan (da série “Everything Sucks!”), conta a história de Pippa (Sydney Sweeney) e Thomas (Justice Smith), um jovem casal que acaba de mudar para um apartamento alugado. Durante a noite, no prédio da frente, se deparam com um casal que não tem receio de mostrar suas intimidades para os vizinhos. Pippa e Thomas acham estranho, mas logo ignoram e seguem suas vidas. Porém, o ato de bisbilhotar a vida deles passa a ser uma tradição. Juntos, descobrem que Seb (Ben Hardy) é fotografo e assedia sexualmente as modelos que leva para o apartamento no período em que sua esposa Julia (Natasha Liu Bordizzo) está fora de casa.
Enquanto Thomas começa a achar isso tudo perturbador, Pippa passa a ficar obsessiva, aumentando um nível a cada dia: acorda para ver o casal de madrugada, compra um binóculo e até fica escondida na penumbra tentando ver a vida dos outros. Essa insistência, que já começa a se transformar também em uma busca pelo desejo proibido, passa a atrapalhar a relação da jovem com Thomas. Sem encontrar um limite para parar, esse interesse pela intimidade alheia passa a ser o pano de fundo dessa obra de suspense com umas pitadas eróticas. Por meio de planos detalhe, o diretor é capaz de criar uma tensão sexual sem deixar a cena brega.
Na obra, tudo no roteiro é ligado a visão: seja o título do filme, o fato da jovem trabalhar em uma ótica, a piadinha ao tocar Eyes Without A Face, do Billy Idol… ou seja, a prática de voyeur explorada até a última gota. Até a direção de Mohan coloca o espectador no lugar dos protagonistas ao mostrar o ponto de vista do binóculo em tela. O filme não tem interesse em demonstrar o que necessariamente deixa Pippa tão obsessiva, só apresenta que a jovem entra numa espiral de loucura e não consegue sair mais. O diretor busca trazer frequentemente novos elementos que mantêm o casal interessado na vida dos vizinhos – o terceiro ato, no entanto, deixa de lado uma continuidade mais realista e abraça uma vingança construída por uma sequência de plot twists que é interessante, mas desnecessária.
A escolha do elenco foi muito bem acertada, Sydney Sweeney e Justice Smith, com uma química tangível, fazem com que o espectador tenha o mesmo nível de interesse que os personagens. A diferença é o nível moral de pessoa para pessoa que define o nível aceitável de algumas questões: tudo bem observar se o casal é exibicionista? Se sim, qual é o momento certo de parar e pensar “Opa, isso já é intimidade demais pra mim?”.
“Observadores” tem uma ótima construção, atores talentosos e um último ato que não precisava de tantas revelações. A sensação que fica é que o final acaba tirando um pouco daquilo que encantou até o segundo ato. Inconveniências a parte, trata-se de um ótimo suspense, afinal todo mundo curte uma bisbilhotice. E se você não curte, talvez sua grama seja mais verde do que a do vizinho.
O post Crítica | Observadores (Prime Video, 2021): linha tênue entre a fofoca e a obsessão apareceu primeiro em Cinema com Rapadura.
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