Há descobertas que a humanidade ganha anos à frente quando chega aos resultados pretendidos, mas há outras tantas que ficam marcadas por décadas como duvidosas, pois suas consequências nem sempre são tratadas com o devido respeito. Quando se trata da guerra, a dubiedade é ainda maior: por um lado, grandes avanços são feitos, mas outros tantos acabam com tantas vidas que é realmente difícil aceitá-las, como bem retrata este “O Matemático”, cuja história gira em torno de Stan Ulam (Philippe Tlokinski), imigrante polonês que usou sua inteligência matemática para ajudar os Estados Unidos entre as décadas que precederam e sucederam a Segunda Guerra Mundial.
Stan, de origem humilde, fez sua vida como professor universitário e ganhou status ao alcançar rapidamente o equilíbrio entre sua inteligência lógica e a didática aplicada para que outras pessoas a compreendam. Foi assim que chamou a atenção e conquistou um dos postos mais almejados por qualquer imigrante nos Estados Unidos: o de responsável pelos desenvolvimentos científicos do país. O grande problema é que, enquanto Stan conseguiu sair da Polônia são e salvo, junto de seu irmão, ambos jovens, o restante da família por lá permaneceu e, resistentes à fuga e ao abandono de suas vidas, foram capturados e mortos pelas garras fascistas de Hitler, assim que a Alemanha dominou o país.
Por sua vez, Stan teve a grande crença de que poderia ajudar o seu novo país e, ao aplicar seus conhecimentos em determinados conceitos, ele foi convencido de que os Estados Unidos precisariam encontrar o conceito da bomba de hidrogênio antes de Hitler, em mais uma corrida bélica, e, como um dos grandes responsáveis pelo resultado, sua história foi pouco divulgada até então. Porém, muito mais do que uma cinebiografia, este “O Matemático” leva o espectador à mente de Stan, não como profissional, e sim como um ser humano que acreditou, ousou, pesquisou e acertou. Mas cujo resultado de tanto trabalho foi o responsável pelas mortes brutais em Hiroshima e em Nagasaki.
Com isso, mais do que o conceito nacionalista tipicamente apresentado pelo cinema de Hollywood, à exceção recente de “A Conquista da Honra” e “Cartas para Iwo Jima”, o filme é hábil, muito por conta do roteiro de Thor Klein, que também assina a direção, por trazer reflexão. Desta forma, se por um lado Stan acreditava que a sua pesquisa ajudaria sua família, por outro temia que acontecesse justamente o que aconteceu, e o peso de algumas consequências lhe deram um choque tão grande que o fez sofrer um AVC.
Mas, mais do que um melodrama, a vida de Stan Ulam lembra muito a vida de outro inventor, Santos Dumont, e das consequências quando soube que a aviação estava sendo usada para fins bélicos. Com isso, o espectador terá a oportunidade de mergulhar na mente deste protagonista, e de como ele chegou do ponto A ao B em suas conclusões, além de compreender suas responsabilidades como alguém que perdeu pais e irmã, viu o irmão perder boa parte de sua consciência após ser convocado pelo exército, e precisou fazer de tudo para que seu filho não tivesse o mesmo destino.
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Para fazer isso acontecer, então, Klein é hábil ao construir um cenário de constantes questionamentos, tanto pelo próprio Stan quanto por outros cientistas, e tornar a fotografia de Tudor Vladimir Panduru como a poderosa linguagem que é neste longa foi uma decisão sábia, pois, ao evitar pegadinhas de efeitos visuais de baixo orçamentos, o diretor de fotografia transformou os cenários certos em locais extensos, e o foco no protagonista como motivação e resultado de suas ações. Assim, não foi preciso mostrar os destroços de Hiroshima ou Nagasaki, mas sim acompanhar Stan e o peso em suas costas ao saber como aquela arma foi usada, e os recortes de jornais e rádios fazem suas respectivas partes narrativas.
Além disso, a maquiagem é eficaz ao transformar a figura sedutora e sempre cheia de vida de Stan em um homem cuja existência passa a ser apenas um resquício do que foi, o que é construído de maneira espetacular por Philippe Tlokinski, ator que aproveita de seus traços joviais para tornar seu personagem naturalmente carismático, mas que não nega o peso do tempo ao compor uma figura mais complexa no que divide o longa em duas partes práticas: o pré e o pós bomba atômica.
Com isso, ainda que o roteiro perca o fio ao jamais desenvolver a figura de Françoise (Esther Garrel), a esposa de Stan, cujo peso em sua história foi muito maior do que o retratado, este “O Matemático” é um ótimo longa que aproveita o conceito de cinebiografia para trazer um respiro aos filmes cuja temática é a Segunda Guerra Mundial. Afinal, o seu verdadeiro impacto está não no que motivou Stan a ajudar a calcular a bomba atômica, e sim no que certas ações certeiras podem trazer como consequência. No caso, historicamente terríveis.
O post Crítica | O Matemático (2020): a equação de uma vida de realizações apareceu primeiro em Cinema com Rapadura.

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