Crítica | Desjuntados (Prime Video, 2021): um casal em crise não quer guerra com ninguém

O problema é que Camila (Letícia Lima) e Caco (Gabriel Godoy) possuem um apartamento de alto padrão no Rio de Janeiro, e estão com as parcelas altíssimas do condomínio em débito, o que os impedem de consumar o divórcio. Além disso, ambos estão com grandes buracos em suas vidas profissionais: ela tenta a vida como consultora de uma famosa e conceituada rede de cosméticos, levando diversos prospectos ao apartamento para usá-lo de ponto de partida de que é uma mulher de sucesso. Ele, por sua vez, foi exonerado de uma empresa estatal que faliu (condiz com a realidade) e aguarda o valor do processo contra a mesma.

Aos poucos, então, Camila e Caco precisam lidar com o rombo financeiro que se forma, e contam um com o outro nesse momento tão oposto de suas vidas. Porém, o que acaba atrapalhando é que eles começam a caminhar por lugares diferentes em suas vidas, e os encontros amorosos com outras pessoas parecem confirmar o quanto querem seguir adiante, ainda que nutram forte sentimento um pelo outro. Aliás, é Caco a pessoa que está realmente em dúvida sobre o divórcio, e ele jamais consegue demonstrar seu arrependimento a Camila, que parece ausente de quaisquer problemas conjugais.

Com essa premissa, “Desjuntados” apresenta uma proposta leve e descontraída, e seu formato lembra o de uma sitcom, mas conta com diversas externas. Desta forma, a linguagem híbrida é um sinal de que Mina Olivera, sua criadora e responsável pelo projeto chegar ao ar, partiu do princípio de que tinha uma história para contar, e contou justamente com o talento de Letícia Lima e de Gabriel Godoy para desenvolver um projeto sem a prepotência de julgar seus personagens. Desta forma, o roteiro de Daniele Valente e a direção de Anne Pinheiro Guimarães e de Olívia Guimarães condizem com a sensação de que o amor está sempre no ar naquele condomínio de alto padrão.

Transformado em um cenário caótico, o apartamento deixa de ser palco do amor de um casal, abraçando aspectos multipolares para contar ao espectador que aqui está uma história sobre duas pessoas confusas, que julgaram não se amar, mas que se amam acima de tudo, de uma forma ou de outra. Com isso, é bem provável que os coadjuvantes trazidos para complementar o coração do casal principal acabem sendo deixados de lado pelo próprio espectador, pois a química entre Lima e Godoy acaba excedendo a própria história.

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Desta forma, “Desjuntados” encontra um problema enorme: em nenhum momento o casal parece se desinteressar de fato um pelo outro, e sim olhar para outros lados em prol de uma solução para suas vidas, o que os confunde e justifica a vontade de separação. Porém, a química é instantânea, e o mérito da direção e dos atores acaba prejudicando em parte o conjunto, pois tanto Rômulo Arantes Neto quanto Virgínia Cavendish são deixados de lado, ainda que tenham suas respectivas funções narrativas.

Além disso, é uma pena que o talento cômico de Patricia Thomaz não encontre mais espaço, pois a atriz consegue roubar cada minuto de cena para si, empalidecendo os demais. Por sua vez, Marcelo Laham e Letícia Isnard pouco conseguem fazer no decorrer da primeira temporada, pois seus respectivos arcos são dispensados durante o segundo ato, trazidos de forma pincelada para o desfecho e, ainda assim, não surtindo nenhum efeito na relação entre Camila e Caco.

Ainda assim, “Desjuntados” é uma boa comédia, e diverte de forma despretensiosa. Cabe ao espectador, então, julgar se a sua vontade é a de mergulhar na vida daquele divertido casal sem julgar suas experiências. Com certeza vale pelo elenco principal.

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