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“Danças Negras” é o tipo de documentário que precisa ser exibido constantemente para o público brasileiro, quiçá o em formação, das escolas, pois apresenta a arte de forma pura e naturalmente combatente às exclusões, e o faz através da representatividade da cultura africana, em sua diversidade histórica e geográfica, a qual está presente na raiz do Brasil e de sua história. Não é à toa, então, que o filme cativa em seus primeiros minutos, mas o melhor desta experiência é que ele continua cativando durante toda a projeção.

“Não existe um respeito e uma importância que acho que é devido à cultura negra”, e essa frase ecoa durante toda a projeção, seja porque faz parte de um importante entrevistado, seja porque é o cerne em questão. Aqui, há um estudo, através da direção e do roteiro de Firmino Pitanga e João Nascimento, que se traduz em pontos de vista tão contundentes quanto essenciais para se compreender como um país deixou que parte de sua cultura fosse apagada de forma tão radical. Aos poucos, porém, o espectador vai compreender o que é a falta de respeito: é o embranquecimento das origens indígenas e negras do país, enquanto a cultura eurocêntrica é exacerbada.

“A cultura africana era o que? Não existia, não era considerada como arte”. Mais uma vez, o eco se sobrepõe a tudo o que um simples olhar em museus, teatros, estúdios de dança e outros afins relacionados a arte possuem e reproduzem no Brasil. Desta forma, a dança aqui é o pano de fundo para as discussões sobre a necessidade do olhar em culturas africanas diante da ausência delas na arte, e como isso impactou a sociedade de forma geral, sobretudo para o ser humano que teve boa parte de seu legado esquecido ou apagado. No final das contas, ela é um complexo passo a passo para criar um novo parâmetro em cima do roteiro deste necessário documentário, gerando discussões e olhares que vão muito além da arte. Com isso, quando se ouve que “A cultura africana não tinha lugar na escola de dança”, ou pior: “Eu tinha que eliminar o meu quadril, porque ele não cabia à dança”, significa que o mundo precisa mesmo reivindicar a arte em sua totalidade, e não apenas de uma raça só.

Aliás, ao colher depoimentos tão fortes e impactantes quanto muitas vezes melancólicos, os diretores compreenderam que, muito mais do que um material sobre uma ou outra carreira, aqui estava a oportunidade de servir ao mundo como uma discussão, como uma porta de entrada para os conscientes e uma janela de esperança para os cegos de alma e coração. E, com isso, a dança tem, sim, seu espaço nesta obra, no qual ocupa não só o espaço de pano de fundo, mas como a força-motora que rege as diversas histórias, e as nuances que são apresentadas de forma sempre poética. Entre um depoimento e outro, ela ocupa seu devido lugar. Mas, em boa parte da projeção, abraça o espectador como a arte africana, tão antiga quanto importante para a humanidade, e que perdeu seu lugar até então.

Com a iniciativa de diversos profissionais, dentre eles professores de dança, o corpo negro passou a protagonizar a dança, e toda pessoa passou a aceitar seu corpo para poder dançar. “No caso do Brasil, a descolonização que estamos buscando hoje é a descolonização cultural”. “A base da cultura planetária é de origem negra e africana”. Aqui estão dois contrapontos que preenchem o mesmo lado da história, e que contam muito sobre o impacto deste longa como importante diálogo sobre a cultura no Brasil, como ela foi construída ao longo dos séculos pelos povos escravizados, e como isso foi apagado ao longo do processo imigratório que dominou o país.

Desta forma, “Danças Negras” é muito mais do que um documentário que conta a origem das centenas de danças vindas do continente africano, e sim uma carta de amor à arte, e um braço de resistência por quem tanto fez pela cultura brasileira, e que somente com os passos firmes (ainda que lentos) do audiovisual conseguiria ganhar o destaque que ganhou aqui. Portanto, é um filme essencial.

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Crítica | Danças Negras (2020): quando a arte simboliza a vida

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