A vida de Tetê (Klara Castanho) não é um mar de rosas. Para começo de conversa, ela é adolescente, e a sua geração é plenamente conectada, pois nasceu com a internet banda larga e cresceu com smartphones presentes em seu dia a dia. Sempre online, ela consegue driblar a solidão através do que vê em redes sociais, mas, por conta da situação financeira de sua família, é obrigada a mudar de escola e, com isso, acontecem as “Confissões de Uma Garota Excluída”, da Netflix.
Dirigido por Bruno Garotti, o longa é adaptação do livro de Thalita Rebouças, “Confissões de Uma Garota Excluída, Mal-Amada e (Um Pouco) Dramática”, e encontra na jovem atriz o protagonismo certeiro para tornar a Tetê uma jovem em busca de popularidade, enquanto enfrenta todos os percalços da adolescência, e precisa lidar com a presença das paixões, desgostos e desavenças típicas dessa etapa da vida. Porém, apesar de contar com a impopularidade no novo colégio, a inteligência e perspicácia de Tetê são combustível para que ela dê a volta por cima.
Felizmente, a jovem consegue fazer seus dois amigos para a vida, Zeca (Marcus Bessa) e Davi (Gabriel Lima), e isso faz toda a diferença para que enfrente, inclusive, o jeito quase hostil de sua família lidar com a sua forma de enxergar o mundo – ou, no mínimo, condescendente. Assim, esta é uma comédia adolescente que, como sua protagonista, é perspicaz, e conta com o pano de fundo da era tecnológica para explorar a essência do que é adolescer, e transformar a atual geração no foco das discussões atuais sobre tecnologia, relações familiares, sexualidade, reputação e amadurecimento.
Assim, Garotti consegue adaptar muito bem o texto de Rebouças, transportando a essência literária para o roteiro e, com isso, mantendo o tom constantemente divertido, sem perder o tato com o seu público-alvo. Por sua vez, é justamente esse um problema que pode desinteressar os mais velhos e, com isso, fechar o diálogo com aqueles que também precisavam escutar mais sobre seus próprios filhos e netos. Com isso, a relação de Tetê com a família, que poderia ter mais momentos de tela justamente pelo talento de Rosane Gofman e Júlia Rabello, serve de alerta para os adultos que negligenciam o que de fato os mais novos pensam, sentem e, principalmente, necessitam.
Com isso, o filme perde um pouco do aprofundamento das questões familiares da protagonista, mas ganha com um segundo ato bem ritmado, explorando sua relação com os melhores amigos, enquanto precisa lidar com suas paixões, e os devaneios que Garotti imprime são ótimos, também pelo talento de Castanho em jamais soar caricata ou apenas a sombra de uma adolescente. Ela de fato vive essa fase através de sua Tetê, e sua interpretação permite identificação de outras gerações.
Desta forma, a dinâmica entre os personagens se mostra eficaz porque as situações pelas quais tanto a Tetê quanto os demais adolescentes passam soam universais. Isso, é claro, expande o alcance desta comédia adolescente carioca por trazer identidade geográfica, mas cujo tema não é comum somente no Brasil.
Por outro lado, o desfecho soa genuíno, ainda que ingênuo, mas trazer uma visão otimista a uma protagonista como a Tetê é uma boa ideia diante de seus percalços pelo caminho. Ao melhor estilo “oitentista”, este “Confissões de Uma Garota Excluída” merece ser visto por dosar bem a reflexão sobre uma geração inteira, aproveitar os questionamentos comuns à adolescência e, ainda assim, divertir por conta de uma protagonista bem escrita e amigos bem resolvidos com suas respectivas realidades, ao mesmo tempo em que atualiza paradigmas e mantém a essência intocável: afinal, as confissões estão todas ali, e Tetê merece muito mais do que manter-se à exclusão. Sorte que é a visão de Thalita Rebouças, especialista em abrir diálogo com adolescentes há anos.
O post Crítica | Confissões de Uma Garota Excluída (2021): genuíno e atual apareceu primeiro em Cinema com Rapadura.
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