Histórias melodramáticas tendem a cair em repetição, pois, dentro da linguagem audiovisual, foi esse o gênero que tanto teve a criatividade de roteiristas de diferentes países e épocas levada à exaustão. Porém, como todo clichê é um conjunto de repetições, de vez em quando a fórmula sai de sua forma, e isso resulta em um momento de puro encantamento para o espectador. Ossos do cinema, e deste belo “As Primeiras Histórias de Amor”, que vai do clichê ao estado de pura emoção em minutos, e consegue, sim, se diferenciar por jamais evitar um ou outro olhar em seu roteiro.
Acostumado a narrar seus programas de rádio de forma sempre divertida e objetiva, beirando o deboche por jamais se levar a sério, Min-ho (Park Hae-jun) parece não acreditar que qualquer aspecto emocional de sua vida possa existir. E ele não quer. Por isso, se irrita com as tentativas de sua assistente e roteirista em aproveitar o tempo no ar para contar histórias mais românticas, mas acaba caindo em uma pegadinha ao receber uma carta do que seria uma fã, mas, na verdade, é de alguém que pertenceu ao seu passado. Quando percebe do que se trata, Min-ho se emociona instantaneamente, e isso modifica completamente o seu semblante.
A partir deste ponto, o radialista começa a narrar a história daquela carta, e o espectador mergulha nela através de suas lembranças, indo à adolescência dele em uma cidadezinha litorânea, na qual cresceu acompanhado de seus melhores amigos e, é claro, da paixão de sua vida. Quando jovem, Min-ho, que recebe a alcunha de Beom-sil (Doh Kyung-soo), era introspectivo, e isso o afastou de todas as tentativas de se aproximar de Sook-ok (Kim So-hyun). Ela, porém, sofria com uma doença terrível, que acometia uma de suas pernas e, com isso, a impedia de andar normalmente. Rodeados de amigos, eles riam, choravam e aprontavam, e aqui está a parte puramente melodramática do longa.
Porém, o que o faz funcionar tão bem está na integração dos personagens, e no tempo dedicado aos pequenos momentos, algo que se assemelha bastante à estrutura narrativa de uma minissérie, e merece crédito por fazê-lo de forma dinâmica, dando tempo aos jovens enquanto o radialista apenas interrompe as lembranças para que o espectador veja como ele está envolvido naquela carta, porque sabe muito bem do que se trata. Aos poucos, as versões adultas de seus amigos da juventude aparecem, e o resultado trágico da leitura, que não é interrompida sequer pelos comerciais de um programa de rádio, com audiência máxima, deixa o filme em uma posição incômoda: rapidamente ele conduziu seu arco principal à grande questão a ser apresentada, mas o roteiro de Han Chang-Hoon e Lee Eun-hee, sendo esta também a diretora, é esperto em tornar o segundo ato, o mais extenso, na essência que explica a que o filme veio.
Com isso, Min-ho ganha tridimensionalidade apenas ao narrar a sua história, e Park Hae-jun é hábil ao construir um personagem que se permita mudar de forma orgânica à história. Por sua vez, Doh Kyung-soo e Kim So-hyun merecem aplausos por conseguir manter a discrição em suas interpretações, algo que cairia facilmente em estereótipos, o que aconteceu com os demais atores do arco da juventude de Min-ho. Assim, o trio conseguiu expressar as dores, medos, anseios e vontades de seus personagens com o olhar: a jovem esperançosa com doença grave, o jovem apaixonado tímido e o calejado radialista com uma casca a ser quebrada.
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Como o roteiro é o principal ponto de vantagem deste longa, é provável que o espectador o reconheça rapidamente como a peça-chave do plot twist em seu segundo ato, e isso faz com que a história consiga se desenvolver sem jamais soar repetitiva. Aliás, ainda encontra tempo para trazer discussões e reflexões sobre como os hábitos ultrapassados podem prejudicar sonhos inteiros, e como vidas são sujeitas às mudanças que diversas raízes culturais promovem em uma geração inteira. Porém, o longa não critica, apenas traz a reflexão.
Então, “As Primeiras Histórias de Amor” surpreende por conseguir emocionar através da construção eficaz de seus principais personagens, e trazer uma história comum à tona de um amor que ficou no passado resulta em um belo longa-metragem, fotografado com simplicidade tão ímpar quanto a origem daqueles jovens: culminar em um Min-ho debulhado em lágrimas é o ápice do melodrama, e do efeito que o gênero ainda tem, apesar de excessivamente usado. É como um sentimento, que pode se repetir, mas trazer sensações diferentes sempre.
O post Crítica | As Primeiras Histórias de Amor (2016): memórias de um drama sincero apareceu primeiro em Cinema com Rapadura.

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