Não há um jeito certo de olhar para cada geração, pois, como a história conta, é comum que a geração anterior a que está em pauta se sinta ultrapassada e, portanto, crie observações muitas vezes pejorativas. Por isso, este drama alemão “Amores Rebeldes” é uma boa experiência acerca do que fazer quando se está na posição de observador: apenas contemplar. Porém, como bom representante dos valores da geração Z (aquela que nasceu entre 1995 e 2010), este longa-metragem é pautado no olhar de alguém mais velho e, de maneira contraditória, questiona suas próprias percepções.
Desta forma, o espectador é jogado em um sensual e muitas vezes alarmante jogo no qual seis adolescentes estão envolvidos, de maneira independente, indo na onda da libertinagem respectiva à fase na qual estão vivendo, porém, muitas vezes passando dos limites por não conseguirem encontrar mais o ponto de equilíbrio que os faria parar. Assim, ao lado de diversas obras contemporâneas, como “Generation” ou “Euphoria”, ambas da dupla HBO/HBO Max, o retrato sem tabus confere a oportunidade de julgar, por parte do espectador, mas, ao final de cada obra, é necessária uma longa reflexão sobre como determinadas atitudes são justificadas ao longo da produção.
Assim, neste filme o espectador precisará compor a aquarela junto aos personagens, que muitas vezes se encontram em estado de deploração psicológica porque não conseguem sustentar nenhuma base. E, por estarem sozinhos em suas respectivas realidades, e contarem com apenas seus iguais, muitas atitudes são levianas, trazendo consequências ainda piores e os jogando no ritmo de uma avalanche: assustadoramente sem volta.
Por outro lado, este “Amores Rebeldes” traz uma tonalidade interessante à exploração da sexualidade por parte dos adolescentes, pois, trazendo personagens diversos, consegue explorar diferentes nuances. A exemplo disso, o casal Jakob (Kerem Abdelhamed) e Anna (Sara Toth) ampliam a relação sexual ao filmar e apresentar trechos aos amigos, ou disponibilizá-los na internet. Mas, quando surge a oportunidade de monetizar o sexo do casal, as questões morais começam a aflorar, e o crime que ocorre ali, como reflexo do que tanto acontece à geração acostumada aos nudes, é muito mais difícil de ser resolvido porque a consciência não está acostumada à ideia de que aquilo é altamente prejudicial para a saúde mental da garota, e para o futuro de ambos.
Assim, as diretoras Iliana Estañol e Johanna Lietha, que também assinam o roteiro, conseguem imprimir tanto o tom de urgência que diversas atitudes do sexteto protagonista traz à tona quanto as consequências de seus atos. E, não poupando o espectador das raras participações de pais e responsáveis por aquelas vidas, o filme consegue, ainda, discutir como a atual geração de adolescentes está abandonada à mercê da era digital, a verdadeira (e questionável) educadora moral. Por outro lado, é uma pena que muitas vezes o sexteto esteja entremeado por questões menores, que atrapalham a essência do filme ao maquiar certas discussões, como o inconsequente Ben (Max Kuess), que cumpre pena e está em liberdade condicional, e que deixa o espectador curioso para saber mais.
E é esse “mais” que muitas vezes não chega, o que atrapalha em parte o desenvolvimento dos personagens. Desta forma, “Amores Rebeldes” merece ser apreciado sobretudo para que o espectador cumpra o papel contemplativo, necessário para um filme funcionar, é claro, mas primordial para que as discussões geracionais não ganhem julgamentos preestabelecidos e, com isso, continuarem a ser alvos dos mais diversos tipos de olhares tortos, sobretudo de quem já passou por isso, mas esqueceu. Afinal, a geração Z, como todas as que chegam à juventude rebelde, pede socorro de forma ironicamente silenciosa, bem diferente do que escrevem em suas redes sociais.
O post Crítica | Amores Rebeldes (2020): valores questionáveis da geração Z apareceu primeiro em Cinema com Rapadura.
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