O cinema brasileiro de ação acabou de ganhar um integrante atualíssimo: “Reação em Cadeia” é o tipo de filme que leva o espectador à torcida por seu protagonista, enquanto o faz refletir sobre o pano de fundo apresentado e, aqui, é justamente a corrupção institucionalizada no país que causa tamanho incômodo – no protagonista e em quem assiste ao filme.

Com direção de Márcio Garcia, e elenco contando com nomes como Bruno Gissoni, Monique Alfradique e André Bankoff, o Cinema com Rapadura bateu um papo com essa equipe, para saber mais sobre os processos do filme e a experiência que tiveram. Para começar, então, o cineasta nos contou:

“Esse projeto nasceu quando fiz o curta-metragem ‘Predileção’, em 2010, que foi meu cartão de visita para, inicialmente, trazer o Bráulio Mantovani e o Thiago Dottori, mas foi ao longo dos anos que ele foi desenvolvido e, entre o curta e este filme, lancei outros dois filmes. Nisso tudo, estávamos em namoro com o projeto, depois veio o noivado e, então, o casamento com o roteiro, que levou de um ano e meio a dois anos para ficar pronto, e seguimos a mesma pegada do curta, com essa embalagem de filme internacional de ação, obviamente com o orçamento em Real, mas que trouxesse esse pano de fundo, que hoje está muito em voga, com a questão política, sem tomarmos partido de nada, mas apenas lembrando que estamos em um país cuja corrupção é sistêmica – e saímos do âmbito político, porque isso também está nas empresas e outras instituições, e contamos a história de um protagonista que é uma pessoa simples, que qualquer um vai se identificar, porque ele quer agir dentro da lei, mas, quando vê, cai de paraquedas em uma arapuca de corrupção e, com isso, a única forma de ele salvar a filha dele é se envolvendo. E aí vem a pergunta: será que você faria o que o Guilherme fez? Eu não sei, mas o que move a nossa vida são as nossas escolhas.”

O pano de fundo de “Reação em Cadeia” é mesmo a corrupção sistêmica, e sobre a forma como escolheu usar isso, Márcio falou:

“Não dá para botar a mão no fogo por ninguém, porque a corrupção está em todos os níveis e nós, como cidadãos, precisamos tomar as escolhas certas e agir da melhor forma, e não ser corruptores. Não adianta não ser corrupto, pois também não podemos ser corruptores, ou seja, quando você aceita ou dá algo para se livrar de um problema, como um fiscal ou um guarda, por exemplo, você está agindo da mesma forma. Temos que fazer como o Guilherme e, claro, como obra de ficção, embarcamos nessa viagem alucinada de um cara correto que termina como uma outra pessoa, mas a sua inspiração é o que ele fez usando a cabeça.”

Já Bruno Gissoni, que vive o protagonista, Guilherme, entrega à entrevista informações preciosas sobre a construção de seu personagem:

“Acho que um bom filme leva anos de criação, então, acho que o Márcio vivencia o que o brasileiro vive ao longo desses anos de desenvolvimento e, após refletir sobre isso, acho que o Guilherme é o brasileiro e o filme é o Brasil, sabe? O Guilherme mergulha nessa história repleta de camadas, porque ele começa como um cidadão correto, que acha que vai ser promovido, como tantos no Brasil, mas, como tantos outros também, para ter essa promoção ele precisa se sujar e, mesmo que ele fale que não, ele é sugado para isso, para esse sistema, e então ele tem que usar o que ele tem de melhor, que é a inteligência, para sair dessa. E, falando um pouco sobre a transformação para viver esse personagem, tive muita ajuda do próprio Márcio, que também é ator, então, ele abre esse debate, e me ajudou a construir esse justiceiro humanizado, sabe? O Guilherme é esse cara que não precisa pegar na arma para fazer justiça, e me questiono se a gente não pode usar isso como uma reflexão do que fazer para lidar com os nossos problemas, de maneira coletiva, para lutar contra esse sistema, pois, enquanto ele se alimenta de nossas fraquezas, só temos a perder enquanto não agimos juntos.”

Por sua vez, Monique Alfradique falou mais sobre sua personagem, Lara, e como foram as filmagens das cenas de ação:

“A Lara é muito impulsiva, faz o que tem vontade, não pensa nas consequências, flerta com o perigo e gosta de viver esse relacionamento completamente conturbado com o Zulu. Ela vive ele muito bem, mesmo sabendo que tem uma possibilidade de um cara que pode dar uma vida mais tranquila, com outros valores para ela, mas ela quer viver isso, e assim a personagem mostra que a vida é feita de escolhas, e a gente acaba refletindo sobre isso, independente da área de nossa vida. A gente teve uma preparação muito intensa com o Sergio Pena, nos dois meses que antecederam as gravações, e mesmo durante, tivemos diversas cenas de improviso, porque o Márcio nos deixava livres. Tê-lo como diretor fez toda a diferença porque, como também é ator, ele entende muito bem do processo, e não nos deixava jamais ficarmos engessados, e isso é maravilhoso porque faz o filme crescer muito – aliás, a adrenalina era enorme, e, em uma determinada cena de perseguição de carros, não tivemos dublês, então, era a gente ali: a Monique tensa e a Lara amando tudo aquilo ali.”

E André Bankoff, cuja tarefa é viver o tempestuoso Zulu, traz sua visão ampla e necessária a um personagem de valores questionáveis, mas existentes:

“Essa imersão de sessenta dias antes das filmagens começarem fez toda a diferença, porque tivemos a oportunidade de criar um vínculo muito forte e, com isso, deixamos as engrenagens tão bem azeitadas fora de cena que, quando íamos para os sets, íamos muito mais seguros e livres para atuar, e o Márcio dava essa liberdade para a gente; ele falava para nos permitirmos viver aqueles personagens. Por isso a imersão foi tão grande, por isso deu tão certo. E isso tudo para o ator é excelente. Por isso, o Zulu é esse cara, é um homem que quer acertar na vida, mas não consegue, porque ele começa a ver que o crime, o que é mais fácil, dá mais certo, é mais lucrativo, e isso o seduz demais. Porém, ele é um cara que faz as coisas acontecerem para dar certo, porque ele quer ter uma família, ele quer ter um filho, e luta pela Lara justamente porque ele quer ter esse amor ao lado dele, apesar de todos os problemas que ele já causou para ela, incluindo toda a violência e o abuso que ela sofreu. Com a adrenalina sempre à tona, ele vive assim.”

“Reação em Cadeia” está em cartaz em cinemas brasileiros. Leia nossa crítica.

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