Em uma cela que mais parece um palco de acusações, o espectador é levado diretamente ao embate entre um jornalista, Bob (Junno Andrade) e o assassino em série que cumpre sua pena (Luiz Guilherme), o qual pode ser chamado pelo título, “O Velho”. Enquanto um tenta apenas escrever uma pequena matéria para o seu jornal, o outro demonstra tédio, que decresce à medida em que explora o cérebro de seu visitante. Neste embate, então, quem assiste ao filme é jogado de um lado a outro, em uma mistura perigosamente divertida de tênis e xadrez, comparável apenas pela mecânica de sua câmera.

Para saber mais sobre a produção, e a composição de personagens tão intensos, o Cinema com Rapadura bateu um papo com os atores, Luiz Guilherme (que também assina o roteiro) e Junno Andrade, e o diretor e roteirista Daniel Talento. Sobre o envolvimento com o projeto, e o desenvolvimento do roteiro, o cineasta falou:

“Há muito tempo, Luiz já tinha o desejo de fazer esse projeto junto com Sacha, que foi o diretor da peça homônima. Nós três havíamos conversado anos atrás, mas na época não conseguimos viabilizar o projeto. Passado um tempo, no início da pandemia Luiz falou ‘Vamos fazer O Velho?’ e eu respondi: ‘Vamos! Mas como, sem grana e nessa pandemia?’. Passados mais uns dias, Luiz me ligou falando que conseguiu uma verba mínima para realizar o projeto e indagou ‘Será que conseguimos?’, na hora eu encarei: ‘Vamos nessa!’. Além da vontade de realização, nós tínhamos um desejo grande de homenagear Sacha, algo muito importante para nós. A partir daí ‘colocamos a mão na massa’. Juntei uma equipe de grandes artistas e, acima de tudo, amigos. Luiz também organizou com amigos dele e fomos para o ‘jogo’.”

Com o projeto em andamento, as leituras feitas por videoconferência e a escalação do Junno Andrade para viver o Bob, estava lançado o desafio: como tornar a cela o ambiente onipresente que é no longa. Talento conta:

“Primeiro, na peça teatral a cela era totalmente aberta com grades e de forma nenhuma poderíamos reaproveitar o cenário. Então, chamei Camila Rodrigues, cenógrafa e diretora de arte, e mostrei algumas referências. A primeira coisa a fazer foi uma cela com teto e só ter local para uma única fonte luz. Assim, entraríamos no mundo de ‘O Velho’, a sua jaula, naquele ambiente claustrofóbico e intrigante. Eu precisaria fazer alguns enquadramentos para que o filme não ficasse só com os mesmos planos. Falei com a Camila que precisaria utilizar todos os lados da cela e, assim, conseguir dar diversidade aos planos, ainda que com quase toda a narrativa dentro da cela. Para dar mais dramaticidade às cenas, criamos uma pequena sala de espera.”

Por sua vez, Junno Andrade falou sobre seu envolvimento, no início do projeto:

“Na verdade foi uma surpresa incrível ter recebido esse convite do Luiz Gustavo, foi um afago imenso na alma ter sido escolhido por um cara que considero um grande ator, que sou fã e que respeito muito! Principalmente por se tratar de um trabalho com um elenco tão enxuto, foi realmente um presente. Quando li o texto me apaixonei de imediato, fiquei inquieto e, por coincidência, aquelas boas da vida, me pegou num momento em que estava devorando documentários sobre assassinos (‘Making a Murderer’) e, durante a leitura, já fui me vendo naquele processo de entrevistar um assassino em série.”

Além disso, Junno também falou sobre o processo de filmagem, ocorrido já durante a pandemia:

“Diante de uma pandemia, tudo se complica. Mas, estávamos com uma sintonia grande mesmo assim, pois o Luiz Guilherme já havia interpretado ‘O Velho’ no teatro. Então, na verdade, tive que correr contra o tempo para me apoderar do texto, mas quando nos deparamos com aquele ambiente, o corredor, as grades, a cela, as algemas, aquela fumaça de tantos cigarros seguidos que o Velho fumava… A caracterização do Luiz Guilherme, o Luiz Amorim (Carcereiro) indo me buscar… Enfim, quando tudo aquilo estava acontecendo, viramos uma chave, foi mágico. Dois dias rodando apenas, mas o suficiente para mergulharmos em todos aqueles sentimentos tamanhos que esperávamos de cada personagem, espero que isso seja recebido da mesma maneira pelo público.”

Já Luiz Guilherme conta que:

“Tudo começou em 2014, quando fiz a peça de mesmo nome, com texto do Márcio Alemão Delgado, e o diretor, na época, era o Sacha Celeste, um grande amigo, um grande diretor, e que faleceu dois anos depois de ter dirigido a peça. Assim, tive a ideia de transformá-la em um filme, e dedicar ao Sacha. Fui alimentando, alimentando e veio a pandemia. Comecei a me sentir o próprio Velho, por conta do isolamento, mas, com a chegada do Daniel Talento, que é um diretor de fotografia brilhante, e também convidei o Junno Andrade. Então, o preparo maior, e com isso tenho de ser sincero, começou para o teatro. Estudei diversos materiais, na época, sobre assassinos em série, tanto livros quanto obras do audiovisual. Mas, acima de tudo, tem algo no nosso filme que me chamou muito a atenção: essa personagem só poderia existir se fosse de verdade, só poderia existir se você duvidasse das suas convicções pessoais na hora em que é questionado, quando é confrontado. E é isso o que a gente trouxe para o filme”.

Também sobre o filme, mas agora trazendo informações sobre o seu processo, Luiz Guilherme falou:

“Esse filme foi posto na lata em uma semana. Foram três dias para construir o cenário, mais três dias de filmagem dentro do estúdio que, aliás, é a Movie Art, do Paulo Dantas, que cedeu gratuitamente para a gente, e mais um dia de externa, que foi na minha casa, e em sete dias o filme estava na lata. Mas, antes disso, teve o preparo de um mês e meio entre o Junno e eu. Nós nos encontrávamos, com as devidas proteções por conta da pandemia, e fazíamos ensaios. Mergulhávamos nos personagens a partir do momento em que nos encontrávamos, para dar intensidade, e tudo funcionou muito bem. Além disso, o Daniel Talento fazia de três a quatro tomadas de cada cena e, como acompanhou nossos ensaios por videoconferência, em algumas ocasiões, ele sabia qual era o momento certo na hora de filmar, cortar e editar. E essa foi a chave da interpretação do Junno e minha também.”

“O Velho” está em cartaz em cinemas selecionados. Leia nossa crítica.

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